Amor perdido ~ Capítulo 09





Acordei cedo. Era o dia da primeira quimioterapia que eu ia com Phelipe. Me arrumei, fiz minha higiene e fui a caminho de sua casa. Durante o trageto, sempre passo em frente à mansão de Gabi. Não estamos nos falando ainda. Na escola, eu fico sozinha quando Phelipe não pode ir. Minha amiga nem olha para mim.
Gabi era super rica, mas a empresa de sua família faliu e ela teve que se mudar para o meu bairro, porém, ainda vive confortavelmente em sua mansão.

Seu portão era azul, parecia casa de novela. Passei rapidamente, me lembrando de vários episódios que vivemos na frente daquela casa.

-Bella! -Gabi gritou. Eu nem a tinha visto encostada no muro branco que cercava a mansão.
-Hum, oi.. -Eu disse, coçando a cabeça, um pouco sem graça.


-Eu queria falar com você. Ia até te ligar .. - ela estava visivelmente desconfortável, também.
-Podemos nos falar mais tarde? Tenho que encontrar o Phelipe. - Pude perceber que, ao ouvir isso, sua expressão mudou. Ela havia ficado triste.

-Huum, vocês tem um encontro? - Gabi tentou disfarçar a decepção.

-Não, é algo totalmente diferente disso. Bom, vou indo. Nos falamos mais tarde. - Por mais que eu quisesse conversar e resolver tudo com a minha amiga, naquele momento, eu estava mais preocupada com Phelipe.
Segui meu caminho. Falar com Gabi me fez ficar feliz, de alguma forma. Há um dia, eu estava agoniada pensando que nossa amizade havia acabado.

Ao chegar em frente à porta da casa de Phelipe, ouvi um estrondo e entrei rapidamente, me deparando com meu namorado jogando os vasos na parede.

-EU NÃO VOU! NÃO QUERO FICAR CARECA! - a furia que vi em seus olhos era assustadora.
-Calma, meu filho. O médico disse que pode acontecer de você não peder os cabelos. - A mãe de Phelipe tentava acalmá-lo, mas era em vão. Ele ia jogar outro vaso quando o empedi.

-PHELIPE, PARA! EU SEI QUE É DIFÍCIL PRA VOCÊ MAS MILHARES DE PESSOAS PASSAM POR ISSO, VOCÊ NÃO É O ÚNICO! - Ao ouvir minha voz, ele colocou o vaso no lugar e se virou, indo em direção ao seu quarto.

-D-desculpe. Eu não vi que você tinha chegado - Antes de se trancar, ele me olhou como se fosse um animal que havia feito algo errado.

-Desculpe, Bella. Toda vez é assim. Ele fica relutante em ir pois tem medo de perder os cabelos. - Disse a mãe de Phel, chorando.

-Tudo bem. Vou falar com ele. - Me dirigí à porta marrom, meio surrada. - Phelipe, tem como abrir a porta? Quero falar com você. - Ouvi o barulho da tranca e entrei.

-Veio me dar um sermão? - ele se sentou na cama e abaixou a cabeça. Aquela cena me deixou mau, não por sentir pena, mas por vê-lo triste.

-Sim e não.. Olha, Phel, eu entendo que você esteja com medo, mas isso é uma coisa que você terá que enfrentar. Eu estou do seu lado, mesmo se você ficar careca. - Sorri e o abracei. -Sabe, eu acho o Vin Diesel um gato por ele ser careca. Você ficará super sexy, meu desodorante roll-on. - O moreno riu e me olhou profundamente nos olhos.

-Promete que vai ficar do meu lado? - o brilho de seus olhos voltou por um momento, mas logo se foi quando ele percebeu que tínhamos que ir.

-Prometo. Agora vamos, bebêzão. Já tá na hora. - nos levantamos e fomos para o hospital, apreensivos.
Depois de trinta minutos, estávamos em frente à clínica. Eu podia ver o pânico nos olhos de Phelipe. Agarrei sua mão firmemente e entramos. A quimioterapia durou mais ou menos 3 horas e fomos pra casa. Eu podia ver que ele estava debilitado, nem parecia o meu namorado. Quando o táxi estacionou em frente à sua casa, ele e sua mãe desceram. Não pude ver o homem que eu amava daquele jeito e deixá-lo sozinho, então decidi dormir com ele. Liguei para a minha mãe e expliquei a situação. Eu já havia contado o que estava acontecendo para os meus pais e eles entenderam.

A noite foi difícil. Phelipe vomitava muito e sua febre ficava cada vez mais alta. Quando amanheceu, decidimos levá-lo ao hospital e ele ficou internado.

Voltei para a casa pois, por mais que eu queira estar do lado dele, tudo tinha acontecido muito rápido e eu sentia como se tivesse se passado um ano, ao invés de quase um mês. Depois de me jogar na cama e tirar um cochilo, tomei banho e liguei para Gabi.

-Oi, Gabi. Então, podemos conversar agora? - Combinamos de nos encontrar no café. Esperei por dez minutos até que ela chegou.

-Demorei? -Gabi estava ofegante. - Bem, eu gostaria de pedir desculpa por ter sido rude no outro dia. Quando cheguei em casa, percebi isso e concluí que você nunca me prejudicaria..

- Gabi, o Daniel não é uma boa pessoa.. É só isso que posso dizer agora. - não queria arrastar mais uma pessoa para o sofrimento que eu estava passando.

-Eu sei. Ontem, antes de nos encontrarmos, eu tinha acabado de ter uma conversa com ele. Daniel me contou da doença do Phelipe.. e me deu o fora, também. - minha amiga começou a roer as unhas, coisa que ela sempre fazia quando ficava nervosa.

-Ah, amiga. Você tá bem? -Perguntei, preocupada.

-Tô sim, e quanto a você? Deve ter sido difícil quando soube e eu nem respeitei seus sentimentos. - Ela parecia triste.

-Tudo bem, você não sabia..Tenho que ir, amiga. Phelipe tá no hospital e prometi que ia cuidar dele. - Tentei sorrir, mas não tive muito êxito.

-Vai lá, fala pra ele que mandei um abraço. - beijei o rosto de minha amiga e fui à caminho do hospital.
Ao chegar, vi que ele adormecia. Me sentei na poltrona perto de sua cama e comecei a acariciar seus cabelos negros. De repente a porta se abriu e vi Daniel parado com uma expressão indecifrável.
-Oi.. -disse ele, coçando a cabeça. - Como ele está?

-Você está realmente preocupado, Daniel? - Aquele não era o lugar para brigar, mas não resisti. Meus nervos estavam à flor da pele.

-Claro que sim.. - O loiro se aproximou e sentou na ponta da cama. - Tudo o que eu disse naquele dia não era verdade. Eu só fico um pouco enciumado por ele sempre ser melhor do que eu em tudo. - Ele olhava no fundo dos meus olhos. - Quando eu era criança, tinha inveja do Phelipe por ele ser alegre e inteligente. Minha mãe morreu quando eu nasci, cresci sendo educado pelo meu pai e ele não tinha muito tempo pra mim. O único lugar que eu tinha para me divertir era a escola, mas o Phelipe sempre cativava as pessoas e todos viviam à sua volta. -Escutei atentamente cada palavra, em silêncio. Daniel estava sendo sincero. - Isso me deixava com inveja, então decidi fazê-lo passar vergonha na frente de todos, mas não saiu como esperava. Phelipe acabou se tornando vítima de bullying. No começo, eu o ajudava mas, quando vi que as pessoas vinham até mim e eu tinha tomado o lugar do meu amigo, o deixei.

Permaneci calada, não sabia o que dizer. Me virei e vi que Phelipe estava de olhos abertos. Ele havia escutado.

-Você achou certo destruir minha infância? - O moreno se sentou - Você só pensou em si mesmo. Fiquei traumatizado, tive que fazer anos de terapia por causa do seu egoísmo..

-Me desculpe.. - Daniel estava de cabeça baixa.

-Já chega, Phel. Você tem que descansar. - o empurrei levemente para que se deitasse, mas ele me deteu.
-Descansar? Ele acabou de confessar que arruinou maior parte da minha vida e você quer que eu descanse? Vão embora. Preciso ficar sozinho. - Phelipe encarou o outro lado da sala, ele estava prestes a chorar, mas não queria que víssemos.

Saí junto com Daniel. Ele parecia realmente triste com o que havia acabado de acontecer. Fui pra casa, não queria ficar no corredor do hospital pensando na minha vida. Tomei banho, me deitei e deixei o sono tomar conta de mim.

Acordei assustada, meu coração estava apertado. Me levante e fui para o hospital. Phelipe estava transtornado.

-O que aconteceu? - Perguntei, desesperada.

-Daniel tentou se matar.. - sua expressão cortou meu coração.
-O quê? - Eu não podia acreditar nisso.

-Ele está no quarto ao lado. - Fui em direção ao quarto e ao abrir a porta, vi Daniel de cabeça baixa, com os pulsos enfaixados.

-Você ficou doido? - disse, pegando os pulsos de Daniel.

-Ah, você veio? É a primeira visita que recebo. - ele deu um sorriso triste e me olhou.
-Por que você fez isso? - Embora ele tivesse feito tudo aquilo com Phelipe, eu não conseguia ter raiva. Eu via Daniel como uma pessoa que teve uma infância triste.

-E-eu só achei que deveria. Não quero o mau do Phelipe e, quando ele descobriu tudo, entrei em desespero...

-Ele ficou preocupado com você.. e eu também. - De repente, o loiro me abraçou e, logo em seguida, Phelipe entrou na sala.

-O q-que..


escrita por NYA




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